Carlos Martiel’s performance beyond the museum walls - Bubblegum Club

A Performance de Carlos Martiel além das paredes do museu

Aviso: este artigo contém conteúdo sensível que alguns podem achar explícito ou explícito

Recentemente, encontrei alguns textos e reflexões sobre o trabalho de Clarice Lispector. A famosa autora produziu a maior parte de sua obra no Brasil, onde viveu desde os dois anos de idade até sua morte, em 1977. Nascida na Ucrânia, Clarice sempre se sentiu como uma estrangeira, apesar de ter sido naturalizada no Brasil.

Suas obras não tratam diretamente do tráfego migratório em que vivemos hoje – com mais de um bilhão de pessoas tentando deixar seus países de origem – sua literatura não aborda o processo em si, no entanto, aborda o sentimento de ser estrangeira em todos os momentos; o sentimento do efeito de afastamento de um ser antes deste ciclo sociocultural – um sentimento de não pertencer ao mundo em que se habita.

Pensando na formação da arte como um produto longe das obras de contemplação, das paisagens ou simplesmente um retrato do que o olho vê, podemos chegar ao que hoje chamamos de arte contemporânea. A arte se tornou e sempre foi movimento, é assombroso na realidade – epifanias.

A arte nos alerta para a banalidade, para quebrar o óbvio e o previsível. A arte emprega yto percebe, para ver. A percepção do que temos dentro de nós e ao nosso redor. Tudo o que já foi concluído, acabado ou finalizado não interessa à prática artística, é o movimento que o agarra. Ela nos serve para documentar e registrar a percepção.

A produção formalista russa nos alerta para esta questão de estranheza e a percepção do mesmo. No livro “Arte como procedimento” do crítico literário Viktor Chklovski, Chklovski discute o conceito de ostranenie, que em sua tradução literal do russo nos aproxima da palavra “estranheza”. O autor expande que em “estranheza” é algo essencial para a prática artística. “A arte é o meio de sentir o devir do objeto, aquilo que já ‘se tornou’ não interessa à arte”, afirma Viktor Chklovski.

O estado de ‘tornar-se’ – no sentido de um verbo em progresso – de nascer, construir e destruir é o estado artístico em sua mais pura pureza. É em tudo isso e em suas conexões que chegamos ao trabalho de Carlos Martiel.

O artista, que iniciou seu trabalho no campo da performance em 2007, vive e trabalha em Nova York e Havana. Nascido em Cuba, formou-se em Havana pela Academia Nacional de Belas Artes San Alejandro e durante sua formação estudou na Cátedra Arte de Condução, que foi dirigida pela artista Tania Bruguera. Suas obras e o registro de suas obras estão espalhados pelo mundo, em várias bienais, museus e coleções públicas e privadas, como o Guggenheim em Nova York.

Suas obras, mesmo antes de serem performáticas, já habitavam o campo artístico experimental. Quando desenhava, ele não usava materiais tradicionais como lápis, acrílico ou tintas a óleo – ele usava carvão, vinagre, cera de abelha e seu próprio sangue. Foi exatamente em seu sangue pingando no papel que ele percebeu que seu próprio sangue poderia ser seu sujeito, percebendo a capacidade de trabalhar com seu corpo como matéria e suporte.

Sua carreira se desenvolveu muito devido a seu anonimato, realizando suas primeiras apresentações em espaços públicos e desenvolvendo sua prática performativa artística. Hoje, suas apresentações têm sido realizadas em todo o mundo.

Martiel possui e realiza uma arte que é completa e essencialmente política. Seus temas abordados relacionam-se diretamente com imigração, racismo, homofobia, xenofobia e abuso de poder por parte das autoridades políticas, especialmente na América Latina. Estados marciais,

A arte que não expressa, não se refere, não faz alusão, não reflete nem propõe uma mudança na realidade e as circunstâncias opressivas que os corpos específicos (geralmente racializados) experimentam diariamente, não podem ser chamadas de políticas. Minha arte é absolutamente política. Não podia pensar em fazer outra coisa porque nasci em Cuba nos anos 90, porque sou negro, porque tenho ascendência imigrante haitiana e jamaicana, porque sou atualmente imigrante, porque sou bicha, e porque minha arte é a forma que encontrei para me expressar sobre as questões sócio-políticas que afetam não só minha vida, mas também a dos outros.

Carlos Martiel's Art

Uma vez ele definiu seu tema, com base em suas percepções e inspirações – que hoje em dia não se baseiam apenas no mundo artístico plástico, mas também na música e na literatura – as idéias correm para o papel até se tornarem imagens em movimento. A grande atenção que o artista recebe ao pensar na documentação de sua obra e especialmente no registro de suas performances, garante a conservação da imagem como um todo.

Muitas vezes estes objetos, utilizados em performances, tornam-se peças escultóricas e são exibidos como objetos pós-execução. “Esta é outra forma de documentar as obras e para mim elas são como relíquias, pois cada performance que faço é única e irrepetível”, expande Martiel.

A importância do trabalho de Carlos Martiel reside na necessidade de tudo o que nos é dito no trabalho de Clarice: o reconhecimento do processo de estrangeirismo. O artista vai ainda mais longe, qual é a forma do retrato social que escolhemos para colocar na arte? O nascimento de uma postura crítica – de um olhar não de uma sociedade utópica ou que não mais nos pertence, mas de algo com um olhar performático e cristalino do que nos cerca neste momento, como seres vivos e atuantes de uma sociedade comum.

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