Where changes come from: A conversation with Alex Tso about Brazil’s cultural art economy - Bubblegum Club

De onde vêm as mudanças? Uma conversa com Alex Tso sobre a Economia cultural da Arte no Brasil

Sem dúvidas o mundo hoje tem inúmeras urgências. Basta abrir um site de notícias, ou ler um jornal. Os mais atrevidos leem diariamente o trend topics do twitter. É fácil ver o que nos causa problemas essenciais e os já bem estruturados. Talvez você até me ache pessimista ao te apresentar esse bem conhecido lado do mundo, mas faz parte. É a construção do mundo que sonhamos e almejamos. Tudo que nos toca nos dias de hoje é construído. É projetado. Às vezes de formas lindas como em programas de reforma que passam diariamente em canais cuja a audiência é de eternos sonhadores. Outras vezes, nem tanto, como esse computador cuja qual estou digitando esse artigo agora. Provavelmente, quem o projetou e desenvolveu tem uma cama muito diferente dos que o montaram. Se é que todos os envolvidos, possuem camas. Acho que não. Dizendo de uma forma mais óbvia, se olharmos de perto, nem tudo é só a propaganda.

Lucas Soares, Stranger Fruit; 2017

Tanto eu, como você (seja artista, interessado no mundo da arte ou afins), sabemos que o mundo da arte é mundo muito bonito pela superfície. Grandes museus são formados por acervos enormes, lindos, dignos de se tirar o chapéu. O problema é que eles foram conquistados das maneiras mais inóspitas. Mas eu te pergunto, como ver aquilo que por anos, e mais anos foi escondido? Não só escondido, mas ocultado? Acredito que tudo aquilo que deve ser ouvido, também é o mais calado. Essa é lógica que nos expõe a resistência, resiliência e importância. Um grito só não é tão chamativo como várias pessoas gritando o mesmo. Em palavras atuais, não se chega no trend topics com um único tweet.Certo, mas onde quero chegar com tudo isso? Em grande parte do mundo o mundo artístico é praticamente o mesmo. Os que nos “dominam” são homens, cisgêneros, héteros e possivelmente brancos. No Brasil isso não é diferente. As vendas de quadros e obras de arte também são bastante semelhantes. Algo que fique bonito na sala de estar, em cima de um sofá; de preferência. E onde está então o lado político da arte? O transformador de mundos? Sociedades? Por aqui, o máximo de transformação que irá ocorrer é o de qual pequeno aperitivo será servido.

Edu Silva, Estudos sobre mesticagem; 2016

A homogeneidade do público que circula nesse circuito é grande. Quem fala isso nao sou só eu. Em uma entrevista com Alex Tso, isso surgiu rapidamente. Esse incômodo. A superfície da arte e da realidade artística brasileira já se quebrou. Ela nao está oculta mais. Basta se aproximar ou passar na porta de qualquer galeria. Isso é muito claro. Enquanto trabalhava em uma galeria de São Paulo, isso ficou muito óbvio para Alex. “Comecei a sentir um incômodo, pela extrema homogeneidade do perfil do público que via circular neste circuito. Via poucos asiáticas. Negras e indígenas, ainda menos. Nunca vendi uma obra de arte para uma pessoa negra enquanto trabalhava na galeira, acho que nunca nem cheguei a atender uma pessoa negra durante meu tempo lá, para ser sincero”. Em completo oposto a esse movimento elitista, temos também diversas iniciativas. Muito mais abertas, porém nem tanto. “A realidade de um jovem periférico que faz uma viagem de quatro horas para chegar em uma Bienal de Artes com a escola é muito distante da de clientes que chegam de motoristas para uma vernissage n os Jardins (um dos bairros mais nobres da cidade de São Paulo)”. Os direitos e o acesso a cultura são tão desiguais como qualquer outra notícia de um jornal brasileiro. Acredito que o maior problema do Brasil, é a capacidade de negligenciar a sua desigualdade. De não enxergá-la. Fingir que não existe. Simples, se nao se ve, nao existe, nao é mesmo? “Como fazer o encontro de dois mundos, como tirar o véu das bolhas sociais e expandir o mercado da arte?”, bem disse o meu entrevistado. Junto de uma visão de um mercado de arte mais democrático. Através de uma redefinição do circuito cultural, e no caso de Alex, do galerista, como um todo. É preciso quebrar os cristais do nosso circuito.

Nilson Sato, Raw; 2014

Pautar discussões, além de expor, faz com que tudo se torne mais claro. É direito de todo debate, exibir dois lados. O problema é que um deles já é muito bem conhecido. Já sabemos o caminho de cor. Segundo Alex, eles vem do topo da cadeia produtiva. “O problema nunca foi na oferta (em nao tem artistas racializados), e sim na outra ponta, na demanda dos galeristas”. Podemos adentrar em longas discussões sobre a galeria, os “cubos brancos” tratados por Brian O’Doherty , seu espaço social. As instituições são cada vez díspares. “Temos vivenciado uma série de incêndios, atrás de incêndios, comprometendo estas instituições e prejudicando enormemente a possibilidade de acesso cultural à uma população que muito provavelmente nunca se sentirá confortável para tocar a campainha de uma galeria de arte”. “Acredito que estamos precisando urgentemente repensar os públicos do mercado de arte, não só de colecionadores, mas das pessoas que circulam em galerias de arte”, diz Alex Tso. É uma estrutura, muito bem encaixada. Tem acesso, por quem compra e só se vende aquilo que pode ser vendido. O Brasil nao vende a arte que essencialmente produz. O mercado artístico brasileiro vende a cultura, muito bem estereotipada por sinal. Isso tem que mudar.

Ramo Negro, Servente; 2020

O mercado de arte brasileiro é completamente diferente do Brasil. “É um ótimo retrato de como o país se relaciona socialmente – existem evidências e sinais óbvios de uma disposição verticalmente hierarquizada, de quem concentra o poder, e de quem se espera uma subalternidade”. Sinceramente, eu espero que isso mude. Alex Tso é arquiteto e fundador da Galeria Diáspora. Com uma proposta de uma arte mais democrática. Ela é uma tentativa de mudar esse circuito. De tentar transformar através do que é exposto e da curadoria realizada. Seu desejo é criar, com um pilar da pauta racial, um cenário diferente do mercado no Brasil. É uma iniciativa, que mesmo se localizando em uma das zonas mais ricas da cidade de São Paulo, tenta abrir suas portas para toda a margem que a envolve. O espaço abriria as portas este ano, mas por conta da pandemia, ainda não possui data de abertura. Todas as obras que ilustram esse artigo fazem parte do acervo dos artistas escolhidos na chamada mais recente da galeria.

Yoko Nishio, Enquadramentos de Bertillon; 2018

Claudia Lara, Casulo; 2018

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