Talking about walls: an interview with Speto - Bubblegum Club

Conversando sobre muros: uma entrevista com Speto

Paisagens de grandes centros são mutáveis – é praticamente impossível para uma cidade ou urbano centro para permanecer o mesmo. É sempre possível questionar como certas representações e “comportamentos” de uma cidade refletem uma sociedade – suas mudanças, melhorias e detalhes, especialmente.

Penso na arte como uma reflexão e uma forma de comunicação entre as pessoas e (re)apresentar suas experiências, e acho que o graffiti é uma forma artística que se destaca neste aspecto; visões de uma sociedade através dos olhos de um artista, colocado sobre tábua e paredes. Uma forma de arte que não seja apenas restrito ou museu ou galerias.

O cenário da arte urbana na América Latina marca exatamente isto, não só na estética, mas também na comunicando uma estética social. É com estas reflexões em mente que falei com um dos maiores grafiteiros do Brasil, Speto , uma presença marcante no cenário da arte urbana desde 1985.

Você fala muito sobre o grafite brasileiro, sobre a assinatura e a marca do grafite produzido no brasil. Qual é e o que demarca a raiz brasileira do grafite?

Quando falamos sobre a raiz brasileira, penso que é a diversidade do povo.Há muitos estilos diferentes, [acho que] os brasileiros são muito distantes de qualquer tradição. Esta é uma característica que muitas vezes é positiva, às vezes negativa, mas que às vezes faz nós termos um estilo muito original. Foi o que aconteceu no graffiti, esta grande diversidade de estilos.

Desde 1985 você faz parte do grafite no Brasil, sempre foi um grande representante e é da primeira geração de grafiteiros em São Paulo. Formou e o que conhecemos hoje como grafite no Brasil. Para você, qual é e como é a cena de arte urbana no brasil?

Acho que agora estamos em uma efervescência cultural desta arte. Temos todos os tipos de manifestações, da pichação ao grafite tradicional. Há muitas pessoas dos campos de ilustração e belas artes que agora se movem em direção ao graffiti, murais, o que quer que seja, mas principalmente em pinturas sobre os grandes quadros. Isto marcou uma grande diferença para o Brasil, a pintura destas tábuas. Neste momento, existe o Festival Na Lata , onde você vê artistas que olham para a rua para mostrar sua arte e comunicar-se com o povo. Uma sensação de “brasilidade” está extremamente presente em seu trabalho. [Com isto quero dizer que] a presença de cordel e simbolismo se torna grande em seu trabalho.

Como você vê a importância de criar uma identidade em um espaço de ocupação pública coletiva – de experimentação? Você acha que tudo isso nos ajuda a manter e expandir a cultura visual e artística do país?

Eu costumo dizer: temos que ser brasileiros para fazer parte do mundo. Isto vem da música como sempre esteve profundamente envolvido nisso também, e o skate – o underground como um todo.

Na música, havia bandas como Nação Zumbi, Sepultura e O Rappa. Bandas que se podia dizer que estavam enraizados num tipo de “brasilidade” – eu queria me conectar a isso e compartilhá-lo com meus pares – e isto aconteceu através da xilogravura através do cordel. Não sabia como a técnica era feita, e comecei a imitá-la com tinta spray; ela funcionou muito bem. Portanto, não é só arte brasileira, tem muita arte asiática, muita arte africana, um muito da arte mexicana. Eu tento encontrar uma verdade atemporal – e eu acho que isso é muito importante para mim- para encontrar esta intemporalidade.

Em 2009 você produziu o Painel do Museu Afro em São Paulo. Poderia nos falar mais desse painel? Como ele foi criado? Quais são suas simbologias? De que forma esse projeto, essa obra nos recorda e nos re-cria e re-imprime as nossas relações com o continente africano e com a própria história brasileira?

Eu venho pintando com o museu afro há muito tempo. O Emanuel Araujo é uma pessoa que eu admiro muito, por ser esse grande guerreiro na arte e na cultura brasileira. Guerreiro mesmo, sabe? Ele é negro, baiano, homesexual, e teve que criar esse caminho de arte no brasil. O cara é incrível, uma entidade. Também já fiz muitas doações para o museu afro, posso te falar da última que fiz que foi o Xangô chorando, o Orixá Xangô chorando. Diante de tudo que tinha acontecido durante esse período, com a morte de George Floyd, e todas as coisas que aconteceram no Brasil. Do próprio Black Lives Matter e ali foram feitos vários murais de protesto. Para mim essa última obra foi muito importante. Xangô é justiça e a justiça tá cansada sabe? Em um país tão difícil como o Brasil. Os orixás também são uma grande inspiração para mim.

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